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No vídeo anterior,
foram feitas algumas considerações quanto ao paradigma da funcionalidade na arte.
Pensamos pouco, a respeito da tentativa de encaixar a função da arte dentro de uma
classificação pragmática.
Também vimos a questão do direcionamento político que pode ser
dado às obras através de uma arte engajada.
Ainda que não haja intenção do artista
transimitir o seu posicionamentos ideológico através obra, vimos que é
praticamente impossível criar uma experiência artística totalmente neutra.
O artista existe dentro de contexto social, possui repertório de valores do
qual não é capaz de se desconectar totalmente para criar uma obra.
Ele pode seguir com o fluxo e produzir obras reacionárias,
ou pode rejeitar as relações produtivas do momento, criando obras revolucionárias.
Agora nós vamos entrar num paradigma que resume a ideia de "Arte para poucos".
Você já passou pela situação de entrar algum lugar,
talvez visitando uma exposição artística e sentir que aquele ambiente te faz sentir
pouco desconfortável?
Talvez tenha passado pela sua cabeça algum momento: "Acho que esse negócio de arte
não é pra mim", ou talvez você nunca tenha sentido vontade de ir numa apresentação de
música erudita, pelo fato do ambiente de uma sala de concerto te parecer
pouco familiar, populado por pessoas de aparência importante, intelectual.
Por outro lado, você joga videogames que possuem trilhas sonoras ricas,
orquestrais e que te emocionam legitimamente.
Por que as duas experiências parecem tão diferentes?
Existe o que é chamado por Benjamin, de "Ideologia Imagética".
A ideologia predominante uma sociedade é aquela que representa como a sua
classe dominante vê o mundo, ou quer como o mundo seja visto.
A ideologia imagética positivista então serve como uma
maneira de reafirmar a visão de mundo, transformá-la numa visão ideal.
Assim sendo, todo trabalho enaltecido como obra prima dentro dessa
estrutura está comum acordo com a ideologia de domínio.
É como se o julgamento que viesse do topo da escala de poder, fosse considerado
melhor do que o julgamento que é feito pela base da mesma escala, ou no caso,
por nós, que não representamos essa classe dominante.
"A arte feita por poucos, para poucos." Claro que isso vem mudando ao longo dos
anos, especialmente na tentativa de aproximar o público geral dos museus,
das salas de concerto, dos teatros, tanto por meio de iniciativas públicas,
quanto privadas.
Porém, ainda é grande a resistência
aceitar como cultura e como arte aquilo que é feito pelo próprio povo.
Mesmo quando existe essa aceitação,
é como se existisse também, muro separando as grandes artes das artes menores.
Podemos ser tentados a acreditar que exista algum fator ligado ao
espírito de uma obra, que o relacione aquele caráter eterno e atemporal,
ligado ao conceito das belas artes.
Porém não devemos nos enganar, uma obra de arte é capaz de mudar sua natureza
interpretativa com passar do tempo, como já vimos,
a obra perde seu papel como objeto de culto tornando-se desse modo,
a representação de conjunto de valores inteiramente novo.
Verdade seja dita, não é bem a obra que sofre uma alteração,
mas o discurso que se cria sobre ela.
A justificativa que é construída para defender a obra como sendo uma obra prima,
trabalha de maneira flexível e coerente, com a política vigente.
Canclini, teórico defensor da valorização da arte elaborada
pelo povo e para o povo, faz uma crítica da obra de arte como objeto fetichesado.
[MÚSICA] Ele
explica que graças aos novos meio de
comunicação e a presença da criatividade estética nos bens utilizados no cotidiano,
o acesso ao consumo de arte tornou-se amplamente difundido.
Isso fez com que aquele distanciamento entre os
artistas tidos como gênios e o público diminuísse.
Como reação, para reafirmar sua separação dessa arte popularizada,
as classes dominantes fizeram uma tentativa de instituir
modo puro de se conceber a arte pela arte.
A repetição da ideia de arte pura, ou arte maior, é conduzida pedagógicamente.
Esse mito da obra criada por gênios artísticos,
apenas nos separa ainda mais da arte.
Os videogames estão aí para provar que é possível popularizar o
gosto pelas narrativas densas, pela música orquestral,
dentre outras infinitas formas de arte que são expressas através desse meio.
A seguir veremos como se constitui o paradigma da exibição.
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