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Oi pessoal, bem-vindos de volta a mais
encontro do nosso curso de Gestão de Negócios Esportivos aqui pela FIA.
Dando início à nossa quarta aula para tratar de assunto bastante interessante,
que é justamente a relação do esporte com os aspectos econômicos, com a economia,
com os conceitos econômicos, enfim e tudo que envolve a economia do esporte.
A gente vai dividir essa disciplina três partes, três grandes partes.
Uma primeira falando dos aspectos macroeconômicos e a sua
influencia no esporte.
Depois falando dos aspectos microeconômicos e os seus impactos
no esporte e por fim discutir pouquinho a questão do mercado
de trabalho dos esportistas, enfim como que funciona esse dimensionamento.
Vamos primeiro então começar a debater pouquinho, a gente sempre discute: puxa o
esporte representa quase 2% do nosso PIB aqui no Brasil, ele tem uma importância
fundamental para os aspectos econômicos, mas porque é que isso acontece?
É importante a gente debater primeiro qual é a relação do esporte com a economia e
como é que se dá essa grande participação do esporte nos aspectos econômicos.
E o esporte ele tem uma característica muito importante,
a gente poderia dizer que é pura e simplesmente porque ele é demandado,
ele é praticado, as pessoas gostam de acompanhar,
de assistir isso então gera uma demanda, gera consumo e traz impacto na economia.
Mas tem uma outra característica muito particular de alguns setores
e que o esporte está incluído nesses setores, ele possuí essa característica,
a indústria do esporte, que é o que a gente chama, é setor,
é uma indústria que tem alta capilaridade.
O que é que significa ter alta capilaridade?
Significa que ao ser consumido, ao ser utilizado, desejado, praticado,
para que esse consumo ocorra diversos
setores são acionados e são, enfim são utilizados.
Então vamos aqui fazer uma reflexão,
vamos pensar por exemplo, termos de materiais esportivos.
Quando a gente usa material esportivo você pode imaginar que você está acionando o
setor têxtil, você está por exemplo imaginem aspetos do combustível,
quando você pensa automobilismo imagine quantos e quantos litros de gasolina,
de combustível são consumidos numa uma única corrida de uma Formula 1 ou de
qualquer outro tipo de competição de automobilismo e vários outros
aspetos que envolvem por exemplo a produção de material esportivo.
Voltando à questão da capilaridade,
quer dizer, único consumo ele aciona vários setores da economia.
Quando você pensa por exemplo termos de eventos esportivos então evento
esportivo você tem que pensar por exemplo, na segurança, você vai pensar na limpeza,
você vai pensar na confecção, na comercialização de ingressos,
você vai pensar estacionamento, você vai pensar alimentação, energia elétrica,
nas agências de propaganda que fazem toda a promoção desses eventos.
Aspetos relacionados ao turismo, por exemplo você tem uma competição então as
pessoas se mobilizam, vão até aquela localidade,
então percebam quantos setores são mobilizados quando a gente está,
por exemplo produzindo evento esportivo, que está dentro da indústria do esporte.
Se a gente fosse falar da mídia, por exemplo, pensem na mídia que acompanha e
que televisiona, que transmite via rádio, via internet,
a quantidade de profissionais que são envolvidos, jornalistas, repórteres,
locutores, técnicos, além de toda a parte da operação da tecnologia que envolve.
Então de novo vários setores sendo acionados, questão editorial,
a quantidade de revistas, de livros, de publicações,
de DVDs, tudo isso mobilizado.
Sem falar também nos aspectos da globalização, porque hoje essas transações
elas não acontecem só nacionalmente, mas elas acontecem globalmente,
internacionalmente, entre nações então você tem a transferência de atletas,
o atleta está aqui e vai embora, depois ele volta.
Você tem a questão de direitos de transmissão de competição,
então uma competição que é realizada aqui no Brasil é vendida para inúmeros países,
ou uma competição internacional vem aqui, o Brasil com uma emissora de televisão
compra o direito e transmite aqui para nossa população.
Então a alta capilaridade do setor esportivo, da
indústria do esporte é o que amplifica a importância do esporte dentro da economia.
Então quando a gente, justamente o que a gente comentou no início,
quando a gente fala do PIB, da participação do esporte no PIB,
na produção de riqueza, enfim, ela tem a ver sim por lado com a demanda,
com o consumo, porque de fato as pessoas praticam, assistem, acompanham, gostam,
mas também por ao ser consumido você acciona uma série de
setores que estão envolvidos com a produção esportiva.
Ok? Bom, feita essa primeira introdução,
o objetivo da aula de hoje na verdade é a gente poder entender na verdade
conhecer os fundamentos da economia e entender a aplicabilidade de alguns desses
fundamentos na indústria do esporte, no setor esportivo, ou seja se há algum
tipo de adaptação se há alguma correlação com setores mais tradicionais, se no
esporte a aplicação desses fundamentos ocorre de uma maneira mais específica.
Nessa primeira parte a gente vai estar abordando as questões relacionadas aos
fundamentos da macroeconomia dedicadas ao esporte.
Primeiro fundamento da macroeconomia diz respeito à ciclicalidade.
O que é que é a ciclicalidade?
A ciclicalidade, diz-se que setor é cíclico quando o
desempenho desse setor especificamente depende fortemente,
está fortemente associado ao desempenho da economia como todo.
Setor não cíclico, é aquele setor cujo desempenho
independe do desempenho da economia como todo, termos do PIB e assim por diante.
Então, por exemplo, setor não cíclico é o setor por exemplo de alimentação.
As pessoas de fato elas vão consumir, elas têm que comer, é uma coisa básica,
as pessoas vão se alimentar.
Então é setor que não é fortemente impactado com eventuais variações da
economia como todo.
Então o PIB está bem ou está mal mas as pessoas vão continuar comendo,
maior ou menor grau mas o impacto é menos reduzido.
Mas diz-se que o esporte é setor cíclico que o setor esportivo,
a indústria do esporte é cíclica.
Porquê? Porque entende-se que ela está fortemente
associada ao desempenho da economia.
Porquê? Porque entende-se que a indústria
esportiva ela é caracterizada por uma indústria de entretenimento ou de lazer e
assim por diante.
Então entende-se que é consumo relativamente superfulo e por ser
superfulo, a economia indo mal as pessoas tendem a consumir menos.
Então uma pessoa que pratica determinado esporte e paga lá o professorzinho,
talvez num momento de crise ela pare de pagar o professor.
Vai menos na academia, para de frequentar o clube,
não vai assistir ao jogo daquela equipe.
Eventualmente corta o pay-per-view que ela assistia ao campeonato,
que ela gostava enfim, então todos os aspectos que impactam
o consumo na indústria do esporte, talvez sejam de fato impactados pelo desempenho
da indústria como todo, então diz-se que o esporte ele é cíclico.
Agora, por outro lado entende-se que a indústria do esporte, essa ciclicalidade
que caracteriza essa indústria, ela vem-se reduzindo ao longo do tempo.
Então alguns até discutem: será que é realmente cíclico?
Mas parece que ela reduzindo ao longo do tempo e fundamentalmente por dois fatores.
E que eu diria que é bastante importante, diz respeito à globalização.
Então hoje o esporte, não a prática si mas o esporte profissional,
desde que a gente consome, compra camisas, assiste a competição, enfim,
como ele está globalizado, então as receitas elas passam a ser provenientes
de diversas partes do mundo e por isso acontecer talvez eu dependa menos,
ou a minha receita varie menos, função do desempenho da economia da minha
localidade, porque eventualmente parte da minha receita é proveniente de outro país
que de repente compra os direitos de transmissão da minha competição.
Só que lá não está crise, aqui de repente o PIB está mau mas lá o PIB está bom,
então a minha receita proveniente de lá continua sem nenhum tipo de problema.
Então essa distribuição da receita entre diversas partes do mundo,
que é uma consequência da globalização, isso de certa forma
reduziu o impacto dessa ciclicalidade, não é?
E outro aspecto tem a ver com as idiossincrasias do esporte que,
o que significa isso?
Quer dizer, a fidelidade, o consumo, como ele é consumo emocional,
fortemente enraizado aspetos emocionais, usualmente o indivíduo,
ele faz o esforço mas ele não deixa de consumir o esporte.
Então a gente tem inúmeros exemplos, eu sou apaixonado por aquela equipa, tem
a competição, mas está difícil de comprar até alimentos lá casa mas eu vou no jogo.
ou por exemplo, ''meu filho nasceu e eu quero dar para ele uma
camisa do clube que eu torço.'' ''Poxa mas eu to meio sem dinheiro.
Não, mas eu vou parcelar, eu vou dar jeito, mas eu quero ver meu filho''.
Por que? Porque é consumo fortemente emocional.
Então esses dois aspectos, tanto da globalização,
quanto a questão do consumo ser fortemente influenciado por questões emocionais isso
tem reduzindo a questão da ciclicalidade.
Segundo aspecto macroeconômico, acho que vale a pena a gente debater,
é a questão dos impactos econômicos produzidos por mega eventos esportivos.
E muito se discute relação ao legado,
ao quanto que isso pode de fato contribuir para o país.
E é claro que essa contribuição pode vir diversas esferas.
A gente aqui está debatendo a esfera econômica.
Então do ponto de vista econômico a notícia não é muito animadora,
porque historicamente quando você analisa o saldo econômico das diversas
outras ocasiões e competições outros países, a gente pode remeter, por exemplo,
à Barcelona 92, que deixou dívidas da ordem de seis bilhões de dólares ou,
por exemplo, a olimpíada de inverno Nagano realizada 98,
que deixou onze bilhões de dólares de dívida para o país.
E vários outros exemplos que, por exemplo, o orçamento inicialmente
previsto foi estourado múltiplas vezes e isto também trouxe endividamento.
Quer dizer, do ponto de vista econômico não se vê necessariamente
resultado diretamente positivo.
Agora, claro que depende do aspecto da infraestrutura,
então outro aspecto negativo tem a ver com a infraestrutura, que se não for bem
planejada você pode ficar com uma série de elefantes brancos termos de estrutura,
você constrói estádio, constrói uma pista de atletismo, constrói centro de natação,
enfim e depois isso acaba ficando desuso como aconteceu,
por exemplo, no exemplo dos jogos panamericanos que nós tivemos no Brasil.
Então esses os dois lados que impactam a economia nos levam a concluir que do ponto
de vista econômico realizar mega evento tem lá os seus questionamentos.
Agora, a gente não pode aqui deixar de dar o outro lado que é o lado das vantagens de
se realizar, de se sediar essas competições e aí transcendendo pouquinho
a questão econômica, você tem alguns aspectos que devem ser considerados.
Ainda do ponto de vista econômico, você tem as receitas durante o evento.
Estas sim são impactadas diretamente.
Você tem grande fluxo de pessoas vindo para o país, e que de fato vão consumir,
vão impactar diretamente o turismo, a questão de restaurantes, a questão de
consumo geral de produtos, serviços no próprio país que está sediando.
Você tem também o aspecto do desenvolvimento da infraestrutura,
quer dizer, notadamente por sediar uma competição vários outros setores que
dependiam de infraestrutura, e aqui não estou falando da infraestrutura esportiva
que essas a gente já mencionou relação aos famosos elefantes brancos, mas aqui eu
estou falando de infraestrutura aeroportuária, infraestrutura rodoviária,
infraestrutura termos de segurança, de telecomunicações, enfim.
Todas elas são impactadas e usualmente
você tem desenvolvimento disto por sediar estes mega eventos.
Então estes dois aspectos são aspectos positivos desses eventos
termos econômicos.
Mas você também tem outro lado que tem mais a ver com aspecto político ou de
auto estima, então primeiro que haja de fato uma forte propaganda do país sede.
Quer dizer, você está divulgando a marca deste país globalmente.
E esses eventos são sim eventos altamente politizados,
então você têm relações entre países, enfim, que são influenciados por esses
eventos e o país que é o país sede tem uma grande possibilidade de se relacionar e se
relacionar positivamente com as outras nações.
E também você tem impacto sobre a autoestima e a confiança da
população sediar evento desta natureza.
Então este é o segundo fator macroeconômico que eu queria debater com
vocês.
E o terceiro e último aspecto macroeconômico que vale a pena a gente
debater relação à indústria do esporte vem de termo inglês chamado 'moral hazard',
e que traduzido aqui literalmente é muito conhecido como 'risco moral'.
O que vem a ser o risco moral e que está fortemente enraizado nas relações entre as
nossas instituições esportivas e o governo nos governos no Brasil?
Todos vocês devem se lembrar da crise global de 2008.
E que se iniciou nos bancos norte-americanos e bancos europeus que
deram crédito indiscriminadamente e sem muito critério e depois
não conseguiram recuperar este crédito e quebraram, basicamente quebraram.
Pois o que aconteceu naquele momento?
Ao invés de o governo norte-americano permitir a quebra dessas instituições
usou-se termo que foi fortemente difundido que era o termo 'grandes demais
para quebrar'.
Quer dizer, o governo ao entender que o prejuízo se aquelas instituições
todas quebrassem e vejam, elas iam quebrar por conta de uma má gestão delas,
elas eram responsáveis por avaliar o risco das ações que elas estavam tomando.
Mas esta má gestão produziu essa quebra e o governo ao invés de permitir a quebra
imaginando que o prejuízo se elas quebrassem ia ser muito maior,
até por efeito cascata e várias outras instituições também entrariam falência,
ele utiliza o recurso público para recuperar essas instituições.
Então este exemplo que eu dei para vocês,
ele caracteriza esse conceito de 'moral hazard' que é o que?
É uma imprudência gerencial do ponto de vista do gestor que ela é reforçada,
ela é estimulada pela própria conivência do poder público.
Pois bem, isso acontece no Brasil.
Quer dizer, a gente tem a realidade de grande parte das nossas instituições
esportivas e fundamentalmente os nossos clubes esportivos endividadas fortemente,
dívidas, muitas delas impagáveis.
E boa parte dessas dívidas é com o governo, é com a sociedade,
é comigo, é com você.
Essas instituições são instituições privadas têm débito conosco,
com a sociedade.
E por que que elas não quebram?
Porque justamente o governo ao entender que são instituições populares
demais para quebrar, não permite que elas de fato quebrem.
Chamada de 'moral hazard', ou risco moral.
Uma relação que a permissividade do poder público
gera uma acomodação do gestor e desestímulo para
que ele aprimore a gestão dele e impeça que essa situação permaneça.
Aqui a gente encerra a nossa primeira parte desta aula de economia do esporte,
então a gente abordou aspectos da macroeconomia do esporte.
Na próxima parte desta aula a gente vai falar dos
aspectos da microeconomia, dos fundamentos da microeconomia relacionados ao esporte.
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