O problema agora é considerar como esses atores não estatais estão jogando na arena internacional. Como eles interagem? E o novo jogo internacional é um pouco diferente do jogo internacional tradicional. No jogo internacional tradicional, estados eram os únicos jogadores autorizados, os únicos jogadores legítimos, e no jogo do sistema internacional tradicional, o princípio da ação era definido por soberania e pelo poder. Isso significa dizer que estados nação estavam jogando como atores soberanos, em uma percepção clara de otimizar seu próprio poder e atingir o interesse nacional. Com a nova arena internacional a situação é um pouco diferente, porque quando existem tipos diferentes de atores nós temos tipos diferentes de estratégia, e claro que o princípio de soberania não é mais o princípio definidor da arena internacional. A arena internacional é, a partir de agora, comprometida por tipos diferentes de estratégias que estão interagindo. Para os observadores, mas, especialmente, para os atores a previsibilidade dessa situação é muito complicada. E épor isso que nos temos que levar em conta duas novas orientações. O princípio mais importante dos atores não estatais é autonomia, como eu mencionei na palestra anterior. Isso significa dizer que o ator não estatal tem em mente proteger sua autonomia. E o segundo princípio que ele tem em mente é controlar um novo tipo de cooperação com outros atores. Autonomia é um ponto crucial das novas relações internacionais. Se você levar em conta alguns atores não-estatais como atores locais, cidades, municípios, regiões, interior do estado, esses atores locais estão promovendo sua autonomia na arena internacional, e também sua emancipação do controle do Estado-Nação soberano. Isso tem foi apontado por Brian Hocking quando ele estava observando a estratégia apresentada por atores locais na Austrália. Mas podemos achar muitos outros exemplos e eu mencionei na minha última palestra, o caso das ONGs, as quais o principal objetivo era proteger suas próprias autonomias quando estão agindo na arena internacional. Cooperação é algo muito importante e essa cooperação deve ser considerada de um ponto de vista horizontal ou seja, entre atores transnacionais. Mas também de um ponto de vista entre Estados-nação quero dizer negociações, cooperação entre estado e sociedade, como Robert Putnam salientou ao falar do famoso jogo de dois níveis nas relações internacionais, um nível entre Estados-nação e um nível entre Estado-nação com cada um deles e suas respectivas sociedades. É por isso que nos deparamos com um novo mundo onde doméstico e internacional estão interligados, nós estamos em um mundo « interméstico ». Mas nós temos que ir além nós precisamos tentar entender como esses diferentes atores estão interagindo. Na ordem mundial tradicional, existia um único tipo de ator, que era o Estado-nação. Estado-Nação tinha o monopólio das relações internacionais, e as relações internacionais eram relativamente simples de entender, como se elas fossem feitas de uma competição entre atores semelhantes, e especialmente durante o século 19 ou o século 20, quando esses Estados-nação eram muito próximos uns dos outros, pertencentes a uma mesma cultura e ao mesmo nível de desenvolvimento econômico. Agora, os Estados-nação são diversificados mas eles tem que competir com outros tipos de atores: Empreendedores identitários e empreendedores transnacionais. Portanto, três tipos diferentes de atores estão competindo e interagindo na arena internacional atual : Estados-nação, Empreendedores transnacionais e empreendedores indentitários. Nós sabemos o que Estado-nação significa e como defini-lo, nós sabemos que Estados-nação são beaseados em um compromisso cidadão, e estão promovendo uma representação política. Agora nós temos que nos mover para a segunda ponta do nosso triângulo: Empreendedores transnacionais, nós consideramos empreendedores transnacionais como empreendedores inclusivos que estão mobilizando indivíduos vindos de qualquer parte do mundo em um tipo de mercado global. Esses empreendedores transnacionais que nós discutimos na palestra anterior, esses empreendedores transnacionais estão inseridos corporações multinacionais, mas também ONGs, mas também a mídia transnacional, por exemplo. E agora se formos para o terceiro ângulo do nosso triângulo: Os empreendedores identitários. empreendedores identitários devem ser diferenciados de empreendedores transnacionais como eles são exclusivos. Isso para dizer que eles estão apelando para uma parte especial do mundo, isso quer dizer aquelas que compartilham da mesma identidade. Essa identidade é parecida com a outra. E o apelo do empreendedor identitário é baseado em comunidade, isso quer dizer, comunidade religiosa, comunidade linguística, comunidade étnica e então podemos diferenciar, discriminar esses empreendedores identitários que estão baseados em uma fidelidade primária de empreendedores transnacionais que estão baseados em uma fidelidade utilitária. Esses três ângulos são, de fato, expressão desses três tipos de atores concorrentes na arena internacional. Eles não possuem a mesma identidade, eles não possuem a mesma fidelidade, eles não mobilizam os mesmos tipos de instrumentos, eles nao têm as mesmas estratégias, eles não têm os mesmos valores, eles não têm os mesmos objetivos. Agora, o ponto principal do enigma internacional da atualidade é como combinar esses diferentes tipos de identidades, esses diferentes tipos de valores, esses diferentes tipos de objetivos, esses diferentes tipos de instrumentos, esses diferentes tipos de processo. A anarquia da arena internacional atual é, principalmente, resultado dessa combinação de diferentes tipos de lógica que não existiam na ordem internacional tradicional. E, precisamente, se nós levarmos esse triângulo em conta nós podemos observar, claramente, que existe uma tensão permanente em seu interior. Esses três ângulos do triângulo estão em uma tensão entre eles. E por isso que Estados-nação estão em uma tensão com atores transnacionais por que atores transnacionais estão desafiando as fronteiras, atores transnacionais estão desafiando a soberania estatal. Essa é a tensão comum entre um ator vindo do mercado e um ator vindo de uma comunidade política, mas existe a mesma tensão entre Estados-nação e empreendedores identitários por que empreendedores identitários desafiam o compromisso com a cidadania. Eles consideram que a primeira fidelidade, de um indivíduo não é para um Estado-nação mas para sua própria comunidade: comunidade religiosa, comunidade étnica, comunidade linguística. E o empresário identitário, considera um traidor aqueles que são comprometidos com seus Estados-nação antes de serem comprometidos com sua comunidade, com sua <i>Gemeinschaft</i> como o sociólogo alemão Tönnies disse. Agora, também existe uma tensão entre empreendedores identitários e empreendedores transnacionais. Por que há uma tensão, uma tensão comum, uma tensão trivial, entre mercado e comunidade, entre <i>Gesellschaft</i> e <i>Gemeinschaft</i> Então essa tensão está expressando a dinâmica principal da arena internacional atual. Mas, ao mesmo tempo, se eles estão em uma tensão permanente, esses ângulos, esses tipos de atores estão condenados a coexistirem e até mesmo cooperar, por uma razão muito simples: Nenhum deles é capaz de comandar sem a presença dos outros. Isso quer dizer, a dinâmica internacional atual está dependendo da habilidade desses atores de cooperar, de fazer transações, e a dinâmica atual nas relações internacionais é como combinar dinâmicas identitárias, com dinâmicas de Estado-nação, como combinar princípios de Estado-nação com princípios desses empreendedores transnacionais. É nessa mistura desses três tipos de atores, três tipos de estratégias e princípios que nós podemos encontrar a nova ordem internacional. Se esses atores são capazes de coexistir e cooperar, estamos avançando de maneira pacífica. Se eles não são capazes de achar um denominador comum e um interesse comum estamos em uma situação de conflito. Mas vocês podem ver que esse novo tipo de conflito não é mais resultado de uma competição entre Estados, mas uma tensão entre Estados, atores transnacionais e empreendedores identitários.